Arte Voadeira
Ilustrações, livros em branco, diários e herbários personalizados.
sexta-feira, 6 de dezembro de 2013
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
Sobre Violinos e Rabecas
Não sei se Rubem Alves gostaria de ver seus textos expostos assim em meu blog, mas não posso deixar de postar alguns de meus preferidos de vez em quando...embora minhas crenças estejam mais ligadas ao Budismo, respeito suas crenças cristãs, imaginando que em determinados pontos, no fundo, queremos dizer a mesma coisa, só que, utilizando nomes diferentes...
Agradeço é claro, à este grande escritor por suas profundas reflexões.
Sobre Violinos e Rabecas
Tenho uma enorme simpatia por aqueles que foram vítimas de um erro da natureza. O erro da natureza não pode ser escondido: ele está visível, evidente a todos os que têm olhos. O seu corpo é diferente dos corpos dos “normais”, não é da forma como deveria ter nascido, pertence ao conjunto daqueles que “fugiram da norma”, que são “a-normais”. São então classificadas como pessoas “portadoras de uma deficiência”. “Deficiência” vem do latim, deficiens, de deficere, que quer dizer “ter uma falta”, “ter uma falha”. De de + facere, fazer, aquele que não consegue fazer. Um corpo imperfeito, erro da natureza.
Pessoas religiosas procuram razões divinas para explicar o ocorrido – como se aquele corpo fosse produto de uma decisão de Deus. Quando falo corpo estou nele incluindo a inteligência, pois a inteligência são as asas que o corpo criou para poder voar. Tais pensamentos lhes acodem quando elas, do fundo da sua dor, olhando para o corpo diferente do filho, ou olhando para o seu próprio corpo, fazem a pergunta terrível e inevitável: “por quê?”, “por que comigo?”, “por que fui escolhido?”, “por que não sou como os demais?”. Vem então o sentimento de uma grande injustiça – que é seguido pelo sentimento de revolta contra a vida. Tenho muito dó dessas pessoas. Primeiro, pelo sofrimento causado pela diferença, em si mesma. Segundo, porque o seu Deus é muito cruel. Ele, Deus, sendo todo-poderoso, poderia ter impedido que aquilo acontecesse. Mas ele não impediu. Se não impediu é porque desejou: o meu sofrimento, o sofrimento do meu filho são produto do desejo de Deus. Deus se alegra com o meu sofrimento. Religiosamente elas estão repetindo a crença horrenda: “É a vontade de Deus”. Ora, como amar um Deus assim, tão indiferente ao sofrimento humano? Elas não se dão conta de que, se todas as coisas fossem resultado da vontade de Deus, no nosso universo só haveria beleza e bondade, pois Deus é beleza e bondade. Por enquanto Deus ainda está nascendo, o universo está em dores de parto e o que existe é uma grande sinfonia de gemidos, sendo que o Espírito Santo faz dueto com todos aqueles que foram marcados pela diferença (Romanos 8.22-23).
Há o sofrimento do corpo, em si mesmo: dores, incapacidades, limitações.
Mas há a dor terrível do olhar das outras pessoas. Se não houvesse olhos, se todos fossem cegos, então a diferença não doeria tanto. Ela dói porque, no espanto do olhar dos outros, está marcado o estigma-maldição: “Você é diferente”.
A igualdade é coisa que todos desejam. As crianças querem ser iguais. Daí a importância de ter o brinquedo que todas têm. A menina que não tinha a Barbie era aleijada, estava excluída das conversas, dos brinquedos, das trocas. A criança que não tivesse o “bichinho eletrônico” era uma criança “portadora de deficiência”. “Como não ter o bichinho se todas as crianças têm o bichinho?”. Os pais compravam o bichinho – mesmo sabendo que ele era idiota – para que o filho não sentisse a dor da exclusão. Os adolescentes usam tênis da mesma marca, camisetas da mesma grife, fazem todos as mesmas coisas, fumam e cheiram o que todos fumam e cheiram, falam todos as mesmas palavras que só eles entendem. Ai daquele que falar as palavras da linguagem dos pais, ou que usar tênis e camiseta de marca desconhecida. Esse adolescente é “diferente”, “não pertence” ao grupo, é “portador de deficiência”. O grupo é o “conjunto” – no sentido matemático ao qual pertencem os iguais. Os diferentes “não pertencem” são excluídos. Os diferentes estão condenados à solidão.
As pessoas portadoras de deficiência estão condenadas, de início, à solidão. Por serem fisicamente diferentes e por não poderem fazer o que todos fazem estão excluídos do grupo.
Ser igual é muito fácil. Basta deixar-se levar pela onda, ir fazendo o que todos fazem, não é preciso pensar muito nem tomar decisões. As decisões já estão tomadas. É só seguir a onda. A vida é uma grande festa. Mas o “diferente”está sozinho. Não existe nenhuma onda que o leve, nenhum bloco que o carregue. Cada movimento é uma batalha.
Os “normais” podem dizer simplesmente: “Sou igual a todos, portanto sou.” É a igualdade que define o seu ser. Mas os “portadores de deficiência” têm de fazer uma outra afirmação: Pugno, ergo sum –luto, logo existo. Muitos, sem coragem para enfrentar a luta solitária, desistem de viver e são destruídos. Os que aceitam o desafio, entretanto, se transformam em guerreiros.
Há jardins que se fazem por atacado: basta comprar as plantas no Ceasa e em Holambra. As plantas são produzidas em série, em terra cientificamente preparada. São jardins bonitos, feitos com plantas produzidas em série, todas iguais. Mas há os jardins das solidões, que florescem nas pedras. Dominando o vale está a Pedra Branca, lá em Pocinhos. São algumas horas de caminhada, através da mata que se abre para a pedra nua, vulcânica, esculpida por milênios de água e vento. A gente vai subindo e, de repente, aparece o jardim: orquídeas, bromélias, flores, musgos – tudo numa imensa solidão.
As pessoas são assim também. Há os jardins produzidos em série. Parecem diferentes, mas são todos iguais. Quem quiser um que chame um paisagista. E há aqueles que nenhum paisagista sabe fazer. Brotam da rudeza da pedra vulcânica com uma beleza que é só sua.
Pois foi organizado, em Campinas, o “Centro de Vida Independente” – uma ONG (Organização Não-Governamental) que tem por objetivo reunir as pessoas portadoras de deficiência (PPDs). Surgida nos Estados Unidos, nos anos 70, a “Filosofia de Vida Independente” foi criada por portadores de deficiências graves, provenientes, na sua maioria, de ferimentos na guerra do Vietnã. O seu objetivo é encorajar os PPDs a assumir sua vida de maneira independente, sem medos e sem vergonhas: fazer brotar jardins nas pedras brutas.
Lembro-me de meu amigo Roberto, brasileiro, nos Estados Unidos. Com a parte inferior do corpo paralisada pela poliomielite, ele vivia sozinho, dirigia automóvel, trabalhava, namorava e estava presente sempre, em sua cadeira de rodas, nos comícios contra a guerra. Se não me engano chegou mesmo a ser preso. Ele nos visitava sempre – e era fácil, pois morávamos no andar térreo. Depois, passamos para o terceiro andar de um edifício sem elevadores. Disse ao Roberto; “Que pena! Agora que vamos para o terceiro andar vai ficar difícil para você!” Ele me olhou, riu e disse: “Você me parece forte bastante para me carregar até o terceiro andar!” E assim ficou sendo. Ele montava às minhas costas e eu o levava, bufando, escada acima...
Gramani, amigo rabequista. Rabeca é um violino portador de deficiência. Há muito violino fino sem deficiência que só desafina. Nas mãos do Gramani uma rabeca feita de bambu gigante, deficiente, toca Bach. Pois assim são as pessoas...
Rubem Alves, em Concerto para Corpo e Alma, Editora Papirus
segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
Kenbu - Dança marcial da espada e o leque
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
Herbarium
segunda-feira, 5 de setembro de 2011
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
terça-feira, 19 de julho de 2011
Uma Alice como eu ou você... com mais algumas pitadas de Fantasia.
- Fantasia não tem limites.
- Não é verdade! Você está mentindo!
- Garoto bobo. Você não sabe nada sobre Fantasia? É o mundo da fantasia humana. Cada parte, cada criatura é um pedaço dos sonhos e das esperanças da humanidade. Portanto, não tem limites.
- Por que Fantasia está morrendo?
- Porque as pessoas começaram a perder as esperanças e esquecer os sonhos. Assim, o Nada se fortalece.
- O que é o Nada? - É o vazio que resta. É como um desespero que destrói esse mundo. E tenho tentado ajudar.
- Mas por que?
- Porque pessoas sem esperança são fáceis de controlar.
Diálogo do Atreyo com o Gmork, História sem Fim 1
sexta-feira, 1 de julho de 2011
A bela Dri Haddad
Deixa fora todos os números não essenciais à tua sobrevivência.
Isso inclui idade, peso e altura.
Deixa o médico preocupar-se com eles.
É para isso que ele é pago.
Frequenta, de preferência, amigos alegres.
Os de "baixo astral" põem-te em baixo.
Continua aprendendo...
Aprende mais sobre computador, artesanato, jardinagem, qualquer coisa.
Não deixes o teu cérebro desocupado.
Uma mente sem uso é a oficina do diabo.
E o nome do diabo é Alzheimer.
Aprecia coisas simples.
Ri sempre, muito e alto.
Ri até perder o fôlego.
Lágrimas acontecem.
Aguenta, sofre e segue em frente.
A única pessoa que te acompanha a vida toda és tu mesmo.
Mantém-te vivo, enquanto vives!
Rodeia-te daquilo de que gostas:
família, animais, lembranças, música, plantas, um hobby, o que for.
O teu lar é o teu refúgio.
Aproveita a tua saúde;
Se for boa, preserva-a.
Se está instável, melhora-a.
Se está abaixo desse nível, pede ajuda.
Não faças viagens de remorso.
Viaje visite um amigo,vá para a cidade vizinha, para um país estrangeiro,
mas não faças viagens ao passado.
Diz a quem amas, que realmente os amas, em todas as oportunidades.
E lembra-te sempre de que:
A vida não é medida pelo número de vezes que respiraste,
mas pelos momentos em que perdeste o fôlego:
de tanto rir...
de surpresa...
de êxtase...
de felicidade...
Pablo Picasso
sexta-feira, 27 de maio de 2011
O Espelho e a Estátua de Vênus
Nele se refletiam os movimentos da loja: quem entrava, as negociações pela sala até o fim do dia, o sobe-e-desce nos degraus. Refletiam-se também todas as coisas: a porta que atendia e despedia, o relógio que contabilizava o tempo, os vasos que enfeitavam a mesa de centro, um aparador próximo da janela, todo o rico mobiliário de países diversos e objetos raros.
Desde que se instalara na casa, dizia o espelho para si mesmo:
_ Que vida venturosa e plena, minha vida de espelho!
_ Como podes te contentar com uma vida assim?
Não preferirias ser uma janela que se abre para o mundo lá de fora? Ou possuir o poder da porta, que controla e recebe aqueles que entram nesta casa? _ questionavam os outros objetos.
_ Para quê? Se tudo o que a janela vê eu reflito e existe em mim da mesma maneira? Não percebeis que tenho esse dom de reproduzir tudo o que há em minha volta?
_ Não será seu mundo refletido frágil e frio? Se refletes a luz que vem pela janela, também se apaga teu espírito quando ela se fecha, quando a noite cai e as lâmpadas da casa são desligadas!
_ Frio? De que dizeis? Sou considerado pela minha sinceridade. De outra forma, por que viriam a mim as pessoas para consultar sobre suas aparências?
_ Ah, as aparências. Vejo que te contentas em repetir do mundo a superfície. Pois só terás um dom sublime quando refletires aquilo que não se pode ver, que não esteja na superfície que se falseia _ retrucou a janela.
_ Filosofias de janela _ desdenhou o espelho. _ Se é pela aparência que as coisas se fazem desejáveis...
Considerava assim, o espelho, sua vida, até o dia em que a porta abriu passagem para um novo objeto. Era uma estátua de mármore da deusa Vênus, que foi colocada no primeiro patamar da escadaria.
Nada que fora exposto naquela sala tocara tão profundamente a alma do espelho, que se calou num amor tão pasmado, que se esqueceu de tudo o mais que o cercava, voltando-se o quanto podia para aquele certo ponto da escada.
_ O que é isso que reflito agora, que não é tua beleza esculpida, mas que não cabe em mim mesmo? Eu, espelho de um mundo inteiro, não posso conter em mim o que não vejo, nem compreendo!
Viu-se a estátua de Vênus descrita em nuances suaves na face do espelho enamorado. E dele ouvia tantas palavras doces, que por fim também se declarou.
_ Eu, que era esta pedra de fria beleza, descobri um insuspeito calor em meu ser, tão impróprio às pedras, que nem parece estar em mim mesma, mas envolve-me como o hálito de uma morna manhã.
_ Nem que me quebrasse em mil pedaços, poderia refletir-te tantas vezes quanto desejo. E mesmo que expulsasse de mim tudo aquilo que um dia refleti, que limpasse de minha memória todos os segundos que a outras coisas me entreguei, seria impossível conter este amor. E como desejaria ter a face mais límpida só para refletir-te fielmente e exclusivamente, pois tudo o mais tornou-se indigno de conviver contigo em meu espírito.
_ Se antes a escuridão da noite não me incomodava, agora peço ao relógio que estenda as horas do dia, reservando a ti a luz que dá sentido a minha própria existência. E à noite, ansiosa, aguardo nem que seja uma nesga de luar, que se transforma na alegria de ver-me guardada em teus sonhos, enquanto dormes.
_ Ah, mas esse amor tão intenso me enche também de temor _ confessou-lhe o espelho.
_ Jamais duvides do que sinto.
_ Não duvido. Sinto que és tu que sopras em mim este calor de vida. Não poderia nascer de nada que antes havia em meu âmago, pois vejo que tudo era frio e sem sentido.
_ O que temes, então? _ insistiu a deusa.
_ Separa-nos uma escada, estás distante.
_ O que é essa distância? Se ao mirar-te vejo-me dentro de ti, plena de alegria, é porque em ti eu estou verdadeiramente _ considerou a estátua.
_ Mas nosso universo trama contra nosso amor. Já vi tantos que chegaram e partiram. E tua beleza há de ser notada. Vão levar-te de mim. E a dor de perder-te faz-me tremer.
_ Tolo, não busques no incerto futuro razão para sofreres agora. Tu, que tens esse dom maravilhoso de captar-me e possuir-me com um único olhar! Como te invejo! Volta tua face e vê-me, goza o momento que nos une!
E assim viveram seus intensos dias.
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Veio porém a tarde em que a estátua de Vênus foi retirada do salão e a face aturdida do espelho embaçou-se de uma tristeza que transbordou de sua moldura. Tudo o que a janela podia ver, lá fora, turvou-se de um cinza amargurado. E todas as pessoas da cidade cobriram-se de capas e roupas de frio, pois o inverno chegou ao mundo através do espelho.
_ Então, onde está aquele mundo venturoso e pleno? _ perguntou-lhe o relógio, depois de perder as contas das horas espelhadas no silêncio.
_ Tudo o que passara por mim era reflexo efêmero. Só agora, perdido e resgatado pela experiência do amor, me reconheço. Nada perdi, pois de fato eu não era nada: apenas emoldurava as coisas que refletia. Agora, sim, tenho esse amor, que pintou em meu espírito a indelével imagem daquela que amo.
Foi então que se abriu na face do espelho uma janela, por onde se contemplava um dia claro. E, como uma bênção, o sol inundava de luz um jardim, onde Vênus se banhava em primavera.
deixa de viver em si
e vive no que ama.
Platão
Fábulas do Amor Distante
Marco Túlio Costa
segunda-feira, 9 de maio de 2011
És por certo mais belo e mais ameno
O vento espalha as folhas pelo chão
E o tempo do verão é bem pequeno.
Ás vezes brilha o Sol em demasia
Outras vezes desmaia com frieza;
O que é belo declina num só dia,
Na terna mutação da natureza.
Mas em ti o verão será eterno,
E a beleza que tens não perderás;
Nem chegarás da morte ao triste inverno:
Nestas linhas com o tempo crescerás.
E enquanto nesta terra houver um ser,
Meus versos vivos te farão viver.
William Shakespeare
Sonhos de Uma Noite de Verão
Soneto 17
quinta-feira, 5 de maio de 2011
sábado, 23 de abril de 2011
sexta-feira, 25 de março de 2011
A moça tecelã de Stella
Mergulho os olhos
em elegantes
pássaros azuis
e enquanto beija-flores
tecem o ar
com fios de beijos,
eu suspiro:
meu reino terrestre por um par de asas.
Roseana Murray “Pássaros”
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
...e voe para o seu sonho.
terça-feira, 18 de janeiro de 2011
Os mimos de Regiane Sodré...
sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
Para Regiane "O Livro Vermelho"
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
Meu Querido Caderninho
Não faço cerimônia
Não sou um bom partido
Tendo para os vícios
Posso causar desgosto
Sou um pervertido
Livre leve e solto
Um vagabundo astuto
Um vira-lata escroto
Mas você pode se divertir
Mas você pode se divertir
Para conhecer melhor a relação do artista e seus cadernos de criação em plena era digital, acompanhe as respostas de alguns deles para as seguintes pergunta:
1. Para que você usa seu caderninho?
2. Quando e como começou a usar um caderninho de notas?
3. Onde você carrega seu caderninho? Que destino dá para os caderninhos lotados?
4. Ele é secreto? Você compartilha seu caderninho?
5. Seu caderninho é de grife? Você tem ou já teve um Moleskine?
6. Você usava diário na infância? Escreve diário atualmente? Alguém leu ou lê seu diário?
7. Você se modernizou? Acredita que o iPad ou similares podem substituir o caderninho?
8. Seus pais usavam caderno de notas?
9. Cite três funções para o caderninho além de escrever (ou desenhar).
MALLU MAGALHÃES – Moleskine já era chupeta. Nasceu junto com a memória. Mallu Magalhães, ou Maria Luiza de Arruda Botelho Pereira de Magalhães, 18 anos, é paulista, virginiana de 29 de agosto, cantora, compositora e instrumentista.
1. Para tudo, anotações das ideias que ficam zumbindo ao nosso ouvido, ou aquelas que vêm antes de dormir, ou mesmo mapas e telefones, contas, lembretes, sonhos... tudo.
2. Desde sempre. Não me lembro da minha existência sem um.
3. Coloco no bolso, ou na bolsa, ou até mesmo carrego nas mãos, se for coberto de capa sintética. Empilho os usados em lugares estratégicos, de acordo com minha vontade de revê-los ou não, ao longo do atelier.
4. Só algumas páginas. Compartilho apenas o indispensável, o lapidado, as frases boas, os desenhos bonitos.
5. Já tive muitas marcas. Lembro a primeira vez em que comprei um Moleskine, nem tinha nas livrarias, com temos hoje. Comprei numa papelaria e achei a coisa mais linda, um preto. Encontrei depois de muita pesquisa e ia lá todo mês, basicamente. Era caríssimo, mas valia cada página e cada passo ao lado dele.
6. Usava... fazia diário, álbum, scrapbook... tudo eu queria colar e cortar, e colar de novo, com alguma coisa em cima... Mas acabei abandonando o diário. Hoje tenho uma agenda que contém minha vida, minhas tabelas, meus planos, sonhos, objetivos, pensamentos, rascunhos de vestido, cenário, poema... E, claro, os compromissos e aniversários, em seus respectivos dias.
7. Não, e não. Apenas ampliei minha escrita, muitas vezes digito um texto já existente no meu blog, ou Twitter ou Facebook. Mas não, não há nada igual ao papel, nem ao lápis, nem ao pó que fica no dedo, nem ao suor que marca a capa, nem ao peso das letras da máquina de escrever. Venho achando, esses tempos, que o digital perde um tanto quanto da vida.
8. Não, minha mãe tem uns cadernos que ela usa para trabalhar, mas não carrega junto.
9. 1 – carregar; 2 – apertar; e 3- dar para alguém.
BEN TOUR – Artista plástico, de origem um pouco inglesa, um pouco irlandesa, um pouquinho alemã e francesa, de 30 anos, morador de Vancouver, Canadá.
3. Quando completos, guardo em uma caixa de armazenamento. Mas eu costumo voltar a eles de vez em quando, quando estou estagnado e preciso de alguma inspiração.
4. No passado, como havia um bom trabalho em muitos deles, eu partilhava os caderninhos entre os amigos. Mas, atualmente, contêm mais notas, arranhões e possíveis direções que eu poderia assumir.
7. Claro que sim. Eu sou apenas barato e prefiro papel. Eu não tenho o iPad, mas se a Apple quiser doar um para avançar o meu processo criativo, por favor, me escreva. Vou testá-lo e talvez converter. O caderno só parece mais espontâneo. Além disso, eu posso jogar o meu sketchbook na banheira e ele só vai parecer melhor.
9. Pintar! Colagem! Eu dobro recortes de jornais e, as imagens encontradas, eu as mantenho em meu caderno quando estou viajando; para a faculdade: na minha graduação da escola de arte, empilhei todos os cadernos abaixo de minhas pinturas, para que as pessoas pudessem ver o trabalho bruto e os exemplos de pensamento. É interessante ver a primeira marca que você faz para o desenvolvimento de uma imagem.
MÁRCIA TIBURI, ou Márcia Angelita Tiburi, nasceu em Vacaria (RS), em 6 de abril de 1970. É artista plástica, professora de Filosofia e escritora.
1. Pra desenhar, pra projetar meus livros, pra diário dos meus livros. Ali eu desabafo dos processos dolorosos da escrita.
2. Xi, acho que nasci usando, mas lembro que eles me ajudaram muito durante reuniões inúteis.
3. Eu levo na bolsa, no bolso, tenho vários que uso ao mesmo tempo. Em geral, escrevo vários, porque tem o do dia a dia, o de cada um dos livros que estou escrevendo (em geral um ensaio e um romance). E tem alguns destinados quase só a desenhar, começa assim, mas depois mistura tudo.
4. Tem os secretos e os do povo. Em geral, gosto que outros rabisquem neles.
5. Tenho vários Moleskines, mas também gosto dos Cíceros. O meu mais chique é um Johnsons and Relatives, que comprei no Il Papiro de Veneza.
6. Tive cadernos que valiam como diários. Alguns eu joguei fora. Minha mãe leu alguns, odiou... Atualmente, não escrevo em diários. Os caderninhos têm o papel de carregar as reminiscências.
7. Jamais. Heresia, loucura, demência! E os diversos grafites? E a diferença da tinta, das pontas, dos riscos praticamente tatuados?
8. Não, só caderneta das contas do mercado.
9. Construir a solidão; tornar-se criança; e guardar a magia que ninguém que não tenha caderninhos entenderá...
EDUARDO NASI – Natural de Porto Alegre (RS), 34 anos, jornalista e publicitário radicado em SP. “Os caderninhos são meu molho de chaves da terceira dimensão.” Conserva notas, cartão de crédito, desenhos e listas sob o elástico.
1. A primeira coisa que eu tenho de dizer é o contexto em que esses caderninhos se encaixam, que, hoje, é um contexto de celular, de blog, de Twitter, de BlackBerry, de netbooks, de Kindle. E aí é muito fácil registrar tanto o que vemos no mundo quanto o que criamos num mundo de mobilidade. Com a tecnologia, dá para fotografar, escrever, fazer anotações em livros, agendar compromissos... Ao mesmo tempo, ainda tenho uma dezena de cadernos em andamento aqui em casa. Não caderninhos: cadernos. Num tem um projeto imenso que estou criando aos poucos. Noutro, com papel mais grosso, tem umas tentativas de aquarela. Noutro tem as anotações de trabalho (eu misturava uma época, até que me dei conta de que o trabalho é regido por uma confidencialidade diferente). Noutro, maior, há desenhos grandes, bem melhores que nos pequenos. Há outro que eu mesmo fiz, com uma capa de papelão e um miolo de papel de rascunho, que era mais rascunhável também. O que os caderninhos são, pra mim, é uma versão portátil desses cadernos maiores e cheios de especificidades. São menores, misturam tudo, não seguem regras.
2. No formato portátil, quando eu vi os filmes do Indiana Jones. Acho que tinha uns 10 ou 12 anos, e o Indiana Jones anotava todas as suas descobertas no caderno, então eu decidi ter um também. Logo descobri que a vida do Indiana Jones rendia cadernos mais interessantes, então, abandonei a ideia e retomei quando estava no jornalismo, naquela ideia de que jornalista sempre tem que ter papel e caneta com ele, não importa onde ele esteja.
3. No bolso, na mochila. Levo até quando vou ao supermercado. Ficam aqui no escritório, com outros cadernos. Algumas páginas de desenho vão pro Flickr.
4. Não é secreto, mas é íntimo. Então, eu não gosto de exibi-lo abertamente a alguém que acabei de conhecer ou que não é muito próximo e, em alguns momentos, hesito até mesmo com gente bem próxima.
5. O atual, por acaso, é e muitos são, porque o Moleskine tem mesmo um acabamento ótimo e um papel de boa qualidade. Uso às vezes caderninhos de museus mesmo, hà vezes em que ganho de brinde. Mas já usei até aqueles caderninhos de armazém bem vagabundos, que custam 1 real.
6. Na adolescência, sim. Mas, em 2001, eu já escrevia muito raramente e aí comecei meu blog e nunca retomei os diários – mesmo que blogs e diários tenham funções bem diferentes pra mim. Oficialmente, ninguém podia lê-los, mas uma vez esqueci no colégio. Nunca ninguém confessou, mas acho que alguém deve ter lido, porque adolescentes não costumam resistir a esse tipo de coisa. De qualquer maneira, meu maior segredo na época era que eu gostava de uma menina chamada Mariane.
7. Eu acho que não o iPad, que tá mais pra cadernão. Mas o celular cumpre esse papel com vantagens. Mesmo nos modelos mais simples, milhões de pessoas registram seu cotidiano com fotos, SMS, anotações, músicas, gravações... É diferente, é outro registro, mas tenho a impressão de que o celular assume, sim, as funções emocionais de um caderninho: registra a vida, permite criar, está sempre por perto, é meio companheiro. Pensando assim, nunca houve tanta gente com caderninhos – alguns deles só mudaram de formato. Aliás: será que é coincidência que os caderninhos de papel estão tão em moda?
8. Que eu saiba, não.
9. Ah, eu uso até como carteira, pra levar um pouco de dinheiro, identidade e um cartão de crédito naqueles bolsos que alguns cadernos têm no fundo. Também como porta-cartões. E pra guardar ingressos de cinema.
L. FILIPE DOS SANTOS – O “Corcoise”. Nasceu no verão de 1978 em Portugal e cresceu em área rural. Passou por Madrid, voltou a Lisboa, onde está. Aos 16 anos, começou a desenhar para expressar-se ou expressar alguma coisa. Esqueceu o que queria expressar, mas segue desenhando.
1. Uso, na maior parte das vezes, para desenhar apenas. Sempre que me aborreço (enquanto aguardo um transporte público, sobretudo), pego num lápis, abro o meu caderninho e entretenho-me a esboçar algo descompromissadamente, apenas para passar o tempo. Mas, além de desenhos, também se pode encontrar nele uma amálgama de notas: desde listas de compras a cifras e acordes de guitarra, passando por um sem-fim de poemas medíocres.
2. Não consigo lembrar com exatidão, mas desde muito novinho. Arriscaria dizer que desde os meus 11 ou 12 anos. Lembro-me de que os cadernos, que supunha serem usados para anotar as matérias que aprendia na escola, eram vergonhosamente devassados por desenhos de super-heróis e monstros (muitos deles suspeitosamente parecidos com alguns professores meus).
3. Ando sempre acompanhado por dois ou três caderninhos e um monte de lápis de cor, seja em casa ou na rua. A maior parte deles acaba arquivado num cemitério de caderninhos, muitos não abro faz anos.
4. Em muitos casos, creio que deveria ser secreto, porque, por vezes, podem ser encontradas coisas bastante pessoais, mas, como tenho pouca vergonha na cara, acabo mostrando sempre a toda a gente.
5. Curiosamente, apesar de nunca ter comprado nenhum, possuo já uma respeitável coleção de Moleskines. Há sempre alguém que me oferece algum pelo aniversário ou Natal. Mas eu próprio prefiro comprar outras marcas bem mais baratas, porque, assim, não sinto o peso da responsabilidade de preencher cada página com algo realmente digno de lá ficar registrado.
6. Aquilo que se considera um diário de verdade, acho que nunca tive. Sou demasiado torpe ou impulsivo para manter a organização que um diário exige. Apesar de usar diariamente os meus caderninhos...
7. Até agora ainda não possuo nenhum desses objetos modernos, mas ficaria muito feliz se no próximo Natal alguém se lembrasse de me oferecer um iPad, em vez de mais um Moleskine. Contudo, pelo menos para mim, jamais iria ser um substituto de um caderninho.
8. Sim. Aliás, o meu avô já usava. Mas apenas como acessório das suas respectivas profissões.
9. Gosto muito de fazer origamis. Frequentemente, rasgo uma página para me entreter dobrando um animal qualquer de papel. Também uso muito os meus caderninhos para secar e arquivar folhas de plantas. Mas, muitas das vezes, a melhor função dos meus caderninhos é tornar numa mesa estável uma mesa com uma das pernas mais curta.