Quando com pena e papel eu me esboço
Tento me definir em traço sob traço
E me vejo surgir num perfil meio tosco
Como uma peça que fora entalhada a maço...
Então redefino os meus paralelos
Em linhas bem fortes e escuras
Refazendo a minha corrente, elo por elo
Que foram quebrados por minhas danuras...
Mas se me faltar borracha para apagar o erro
Então risco e rabisco, fazendo-me borrão
E finjo-me ser a noite apontando por de traz do cerro
Ou uma nuvem negra, entre as nuvens de algodão...
Então se me faço nuvem, que venha a chuva
E em riscos tortos, faço-me chover no papel
Inundando as variantes destes bucuvas
Até que eu possa me estiar do céu...
Então me volto a desenhar as margens
Definindo minha cabeça, pés e mãos
E na assimetria da minha auto-imagem
Percebo que não cheguei a perfeição...
Então se me ver como um novo mapa
Serei igualmente torto como suas linhas
Mas terei escalas com as medidas exatas
Encontrando-me nas partes que tu sublinhas...
Meu auto-retrato se transforma a seguir
Nas helicoidais, diagonais, linhas em que posso me ver
Penas e grafites que demarcam o meu ir e vir
Neste papel onde eu posso me reconhecer...
Mas se como um desenho rupestre, você me definir
E na minha desenvoltura não encontrares a métrica
Digo que sou como um quadro que está a evoluir
Rabiscando-me até encontrar a minha parte geométrica...
Poema Meu auto-retrato de Marco Ramos
Um comentário:
coisa mais linda não há!
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